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11 de nov. de 2009

Bilhetes poéticos


Com uma caligrafia caprichada e uma letra miúda, o poeta Manoel de Barros prepara à mão um novo livro que promete ser sua obra-prima, coroando os quase 93 anos de tranquila trajetória.

A vitalidade do poeta Manoel de Barros é invejável. Próximo dos 93 anos (completa em dezembro) e apesar das dificuldades auditivas e de visão, ele escreve mais um livro. O teor ainda é um mistério mas, segundo sua primeira e mais fiel leitora, a mulher Stella, trata-se de sua obra-prima. "Manoel escreve à mão, como de hábito, com uma caligrafia muito particular", comenta Pascoal Soto, diretor editorial do Grupo Leya do Brasil, que contratou a obra do poeta mato-grossense - serão 17 títulos e esse inédito, a partir do próximo ano. "Quando recebo correspondência do Manoel, minha pulsação aumenta: são os originais de uma poesia inigualável."

A POESIA de Manol de Barros

Mundo Pequeno
(do livro "O Livro das Ignorãças")

I
O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco,
os besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.

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Um comentário:

Maxwell F. Dantas disse...

Manoel de Barros tem essa simplicidade complexa, ou essa complexodade simples, que acho parecido com as coisas de Drummond. Sempre que leio um poema seu, sinto vontade de ser o que eu sou mesmo. E sei que sou estranho. (Maxwell F. Dantas)